Outono. Minhas certezas têm o peso das folhas, quando desgarram dos plátanos. A vida pinta-se deste amarelo lento turvado de ferrugens improvisadas. Há uma pasmaceira pesada e silente, amnésia e torpor.
Ontem à tarde ele me procurou. Dirigiu lentamente pela via à beira d'água, vagou pelos cafés. Refez mil vezes a velha pergunta e esperou pela milésima primeira para desistir da resposta.
Não tenho palavras para o inverno, quando mostra as suas primeiras geadas. Com a inconstância dos amantes, o verbo teima em sair sem deixar bilhetes. Sinto frio. Desamparo, no leito das linhas abandonado.
Também ele despede-se dos amarelos e prepara o próximo tempo: friagem e solidão anunciadas. Saturno é plúmbeo como o inverno e ele o sabe.
Quanto a mim, por mais que tentasse, jamais consegui as rimas para os seus cinzas.
20 comentários:
Bela foto de quem é?Lembras?A escrita como sempre refinada.
Parabéns!!!
Re
Tudo tão desbotado...
Lindo texto, como sempre.
Beijos do *CC*
a começar pelo belíssimo título, além de multi-interpretativo, texto lindo, cecília. e convenhamos: é mesmo difícil, senão quase impossível, conseguir rimas para os cinzas que não sejam elas próprias. beijo, moça.
CeciLia, o inverno é a própria palavra e, ao mesmo tempo, é o tempo do renascimento. É estação do dentro. O endereço é http://fotolog.terra.com.br/cores_reflexos beijos.
amar as rimas cinzas ?... ah que dificuldade para quem, como nós, ama as outonais, que são tão densas e coloridas. de qualquer forma, é sempre um grande prazer lê-la, ainda que, eventualmente, sem rimas. beijos.
Parodiando: assim como as cinzas das horas, as lembranças em forma de estações nos levam para outras lagunas.
hábeijos
Puxa, não posso idem rimar meus cinzas. E suas palavras rimam com minh´alma, às vezes plúmbea e tantas outras ácida. Seu espaço, lugar de um meu aconchego.
Beijão.
O que rima com inverno é cama, é coberta, é filme ao acaso, é corpos enredados, é gozo saciado e sono embalado. Coisa mais linda teu texto! Um grande beijo.
O que rima com inverno é cama, é coberta, é filme bobo, é corpos enredados, é gozo satisfeito e sono embalado.
Coisa mais linda esse texto. Um grande beijo.
sweet cecilia...
o cinza foge de ti: tua paleta é o embalo, o abrigo, e a doçura.
.
e dê-lhe chima!
Ah, CeciLia, se fazes isto com o amarelo e o cinza, se da ausência do Verbo retiras tamanha beleza, o que não farás com maiores cores-favores?
Abraços!
obrigado pela visita e palavras.
Devolvo para ti também palavras revestidas de espanto e candura.
Tudo o que meu corpo não gosta de inverno, é um pouco esquecido diante de um texto tão intenso.
beijo
rubens
as palavras são tuas. o silêncio diante delas, meu. vc sabe a tradução das nuvens baixas. beijo.
Minha Lia, sabes bem que pouco gosto do inverno, mas ele tem o princípio ativo da vida: as sombras que revolvem o interior para mais tarde vomitar arco-íris.
Beijo cheio de saudade.
eu estou quase como diz a Lu, é preciso vir o Inverno para que tudo se apague e possa nascer na próxima Primavera... é como se houvesse necessidade de um vazio para voltar a mergulhar na luz...
engraçado como as coisas são...tu aí, esperando o inverno, ansiosa, eu aqui, aguardando pacientemente a luz quente do verão... no fundo é só tudo uma questão de hemisférios...
um beijo
sinto saudades dos textos que aguardam serem pincelados aqui ... bj grande.
Suma não, amiga librianescritora!
Beijos
tanto tempo sem postar.
aconteceu alguma coisa?
deixa não teus leitores sem gozo :)
beijo
rubens
Sentimos tua falta, teus escritos alimemtam muitas almas. Sabes principalmente de quem ??? É isto mesmo....volte logo!
Bjs
Re
Oi, Lia.
Tenho a mesma impressão que vc sobre o inverno. Apesar de me achar um pouco tendente ao cinza.
Bah, CeciLia, muito bom.
bjs de quem estava com saudades dos teus retratos.
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