"O jeito que você arruma seu cabelo procurando aquele efeitoque o mundo não quer reparar: - revela tanto.E o tempo que demora para decidirse aquilo que está ouvindo é convincente para poder concordar- e me deixa esperando.Eu posso esperar".
Adentro teu quarto e a claridade tosca, metade janela-metade sensação, sou eu, escuroclara, e és tu, semente de luz germinando bem no meio da carne minha. Adentro tua casa e sou mais do que lume ou breu roto, redundo em incertezas, blasfemo contra a tua calma, me calo. Não sou digna de perquirir da vida as razões, apenas te vejo e quando isso acontece já não sei se sei ouvir, cheirar, tocar. Amplifico-me para além e tua voz me incandesce de uma luz outra, que já não é fria, pois que é tinta de verões. Nenhuma insanidade há no amor, me dirias, se quisesses, mas sem precisão, porque não há que ser assim ou de outro modo e porque o amor é banal como uma roupa e seus prendedores na corda do cair da tarde ou é intenso como as demoras, o amor. E por nunca ter tido essa leveza de andorinha no calor e não ter aprendido a não perguntar, eu perguntaria quando partirias, e tua resposta seria risada aberta e eu teria medo de cair, porque me suspenderias - passarinho ainda incompetente ao vôo - e trocarias a música no CD. Um dia, adentraria tua casa e as estantes vazias e a mesa vazia e a cama vazia. Inverno. Luz fria.
(Texto e Imagem: CeciLia Cassal - Belém do Pará, Brasil)
6 comentários:
Magistral! Ah esse vazio que fica...
é só assim pra falar de mim: fazendo de boba.
texto lindo, também me vejo escuroclara aqui.
como é bom estar em outros lugares!
um beijo grande.
caramba!!vc está em belém??essa foto é na ufpa, lá no poema??
em setembro de 2009 eu ainda não havia mudado pra sp.
(o nome do lugar é mangal das garças e é bem bonito!)
Eu adoro quando consigo me enxergar em palavras alheias. Belíssimo texto, Cecilia, pra variar! Beijo!
écília belo poema retrata o meu agora.
Seu blog e muito bom.
Felicidades muita luz.
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