Há muito não escrevo nada. No exato momento em que explicito isso, penso nas centenas de prescrições, aulas e listas que vão de supermercado à manutenção da casa, bilhetes e e-mails que andei escrevendo nas últimas semanas. Corrijo: há muito não posto nada. Normal, alguns pensariam e atribuiriam aos lapsos de criatividade que acometem periodicamente a todos que escrevem. É mais. Alguns delicadamente me cobram: “o que acontece, CeciLia, há dias entro aqui no Lua e nada aconteceu?!”
Ainda ontem pensei em escrever um texto iniciado várias vezes penitenciando e – de certo modo – louvando as infinitas distrações da pessoa desse lado do teclado. Não deu. Não era isso. Havia outro assunto que precisava ser olhado, possuído, esgarçado. Passavam todos os temas e ele continuava lá, à espera. Um assunto com o qual não queria nunca mais envolver-me e assim dava um jeito de fechar-lhe a porta. Não adiantou, entrou pela porta dos fundos, como todas as verdades que precisam ser olhadas.
Falo aqui da honestidade. Não da honestidade inexistente e utópica de quem não erra. Falo da possibilidade de errar, explicitar o erro e incorporá-lo ao que se é. De pisar na bola e pedir desculpas. Das meias-verdades, mentiras inteiras, das omissões importantes e que roubam ao outro a possibilidade de julgamento e decisão com o conhecimento todo sobre alguma situação. Falo da insistência que algumas pessoas possuem nas duplas agendas, nas vidas paralelas, na falsidade crônica, na forja estúpida de uma imagem que nunca lhes pertenceu. Falo na necessidade de enganar, ocultar, manipular, optar por caminhos indiretos quando a verdade é tão benéfica, tão simples.
“Mas essa não é a CeciLia, vocês devem estar pensando, ela aqui sempre tão envolvida com coisas mais etéreas e menos mundanas. Por que resolveu fazer essa conversa, logo aqui, lugar de Vênus?”
Explicito um lugar-comum: odeio gente sacana. Assim mesmo: ODEIO! Odeio gente invasiva, inescrupulosa, gente sem limites mínimos de respeito à coisa ou sentimento do outro. À verdade merecida pelo outro. Gente a quem um tratado inteiro de ética aplicada não mudaria nada na vida. Gente para quem os fins – os que trazem benefícios a si próprios, bem entendido – justificam todos os meios. Talvez aceitem um rótulo de compulsivos, sociopatas ou borderlines, porque um diagnóstico da ciência provavelmente mascare e amenize a sordidez da criatura e seus feitos.
Há mais de cinco anos alimento estes diários virtuais. Já escrevi para o Margaridas, meu primeiro blog, para um primórdio de Lua em Libra, quando o Terra resolveu desativar o Weblogger, e hoje alimento este espaço onde vocês me lêem. Não foram poucas as pessoas a questionarem sobre livro que não publico por uma série de razões que não cabem aqui e que – sinceramente - nem sei se conheço todas. Fui selecionada em alguns concursos literários, nesse período, participei de antologias. Para brincar melhor nesse jogo com a Palavra, frequentei oficinas com diversos e bons professores. Sobretudo, interagi aqui. Ganhei amigos a quem conheço pessoalmente e não, elaborei crises, dividi saudades, compartilhei visões. Há muito acredito que, uma vez ministrada uma aula ou publicado um texto, eles pertencem ao interlocutor, o que não elimina o fato de ter sido gerado por alguém. O que alguns nunca aprenderam foi que a gente explicita o autor, quando cita uma produção de outrem. A ciência e a literatura são de domínio público. Ou não se podem chamar assim. Deste modo, e porque nunca me apropriaria de produção alheia sem citar a autoria, publiquei aqui um bocado de coisas.
Ainda ontem pensei em escrever um texto iniciado várias vezes penitenciando e – de certo modo – louvando as infinitas distrações da pessoa desse lado do teclado. Não deu. Não era isso. Havia outro assunto que precisava ser olhado, possuído, esgarçado. Passavam todos os temas e ele continuava lá, à espera. Um assunto com o qual não queria nunca mais envolver-me e assim dava um jeito de fechar-lhe a porta. Não adiantou, entrou pela porta dos fundos, como todas as verdades que precisam ser olhadas.
Falo aqui da honestidade. Não da honestidade inexistente e utópica de quem não erra. Falo da possibilidade de errar, explicitar o erro e incorporá-lo ao que se é. De pisar na bola e pedir desculpas. Das meias-verdades, mentiras inteiras, das omissões importantes e que roubam ao outro a possibilidade de julgamento e decisão com o conhecimento todo sobre alguma situação. Falo da insistência que algumas pessoas possuem nas duplas agendas, nas vidas paralelas, na falsidade crônica, na forja estúpida de uma imagem que nunca lhes pertenceu. Falo na necessidade de enganar, ocultar, manipular, optar por caminhos indiretos quando a verdade é tão benéfica, tão simples.
“Mas essa não é a CeciLia, vocês devem estar pensando, ela aqui sempre tão envolvida com coisas mais etéreas e menos mundanas. Por que resolveu fazer essa conversa, logo aqui, lugar de Vênus?”
Explicito um lugar-comum: odeio gente sacana. Assim mesmo: ODEIO! Odeio gente invasiva, inescrupulosa, gente sem limites mínimos de respeito à coisa ou sentimento do outro. À verdade merecida pelo outro. Gente a quem um tratado inteiro de ética aplicada não mudaria nada na vida. Gente para quem os fins – os que trazem benefícios a si próprios, bem entendido – justificam todos os meios. Talvez aceitem um rótulo de compulsivos, sociopatas ou borderlines, porque um diagnóstico da ciência provavelmente mascare e amenize a sordidez da criatura e seus feitos.
Há mais de cinco anos alimento estes diários virtuais. Já escrevi para o Margaridas, meu primeiro blog, para um primórdio de Lua em Libra, quando o Terra resolveu desativar o Weblogger, e hoje alimento este espaço onde vocês me lêem. Não foram poucas as pessoas a questionarem sobre livro que não publico por uma série de razões que não cabem aqui e que – sinceramente - nem sei se conheço todas. Fui selecionada em alguns concursos literários, nesse período, participei de antologias. Para brincar melhor nesse jogo com a Palavra, frequentei oficinas com diversos e bons professores. Sobretudo, interagi aqui. Ganhei amigos a quem conheço pessoalmente e não, elaborei crises, dividi saudades, compartilhei visões. Há muito acredito que, uma vez ministrada uma aula ou publicado um texto, eles pertencem ao interlocutor, o que não elimina o fato de ter sido gerado por alguém. O que alguns nunca aprenderam foi que a gente explicita o autor, quando cita uma produção de outrem. A ciência e a literatura são de domínio público. Ou não se podem chamar assim. Deste modo, e porque nunca me apropriaria de produção alheia sem citar a autoria, publiquei aqui um bocado de coisas.
Esse é o verdadeiro motivo de estirar-me neste divã: há uns meses fui informada de um plágio. Uma presumida distinta senhora, na época à frente de uma associação de escritores, simplesmente roubou-me um poema. Alguém que se propôs, ao menos por um tempo, defender a literatura e seus escritores publicou em seu livro, como se dela fosse, um dos meus poemas mais caros: aquele que escrevi no dia dos meus quarenta anos, no caminho e à frente de uma lagoa que recebeu-me a comemoração solitária por opção e necessidade de recolhimento. Um poema que, dois anos antes do roubo, tinha sido selecionado e publicado na antologia dos Poemas no Ônibus, com a autoria correta. Confesso, há dois meses tento assimilar o fato. Fiz contatos, pedi explicações inexistentes. Nada. Tenho em minha mesa os dois livros, de 2004, com o meu poema e de 2006, com o que ela publicou.
Muitos já o conhecem, mas transcrevo-o mais uma vez aqui, ratificando a autoria.
Muitos já o conhecem, mas transcrevo-o mais uma vez aqui, ratificando a autoria.
Não Gosto
Em dias de maior tristeza
permita-me desaparecer
sem deixar bilhetes
sobre a mesa.
Ocorre que nestes dias
ando com a alma aos farrapos
(isso aprendi com os gatos)
não gosto que me vejam
morrer.
CeciLia Cassal
(Texto: CeciLia Cassal. Imagem: José Paulo Andrade. Música: Sonho Impossível, com Maria Bethânia)
19 comentários:
cecilia,
compreendo o silencio e o grito. e acho que a plagiadora não pode sair ilesa nessa historia. é preciso tomar todas as medidas cabíveis pra que isso seja resolvido, inclusive legalmente. e acho que seria bom sabermos quem é a figura, especialmente, se ela tiver blogue pra nos protegermos e fazermos umas "reclamações" lá também. isso nao pode ficar assim.
beijo!
Bem, vc tem, pelo menos dois, advogados gratuitos para reinvindicar em juizo os seus direitos...Não que isso diminua a sua indignação, mas porque talvez previna que essa distinta senhora se apodere, novamente, do que é de outrem!
No mais, bandido tem que ser perseguido pela lei!
Estamos as ordens!
bjs
Menina, fiquei surpresa, sem ter ficado, entende? Pessoas desonestas estão por todo o lado, mas roubar um poema??? É o cúmulo dos cúmulos!
O universo das 'pessonhas' me deixa cada vez mais perplexa...
É uma pena que existam pessoas que façam isso e consigam sorrir e agradecer aplausos para algo que não lhes pertence. Dividi a indignação contigo. Claro que tu sabes que o que importa é que TU saiba que esse poema te pertence e a importância que ele tem para ti. Mas sentir esse roubo de um sentimento tão teu é de uma inescrupulosidade sem tamanho. Compartilho teu anseio por um mundo mais honesto... Beijos sempre com admiração e sempre saudosos!!
CeciLia, minha solidariedade, respeito e carinho ante tua justa indignação. Recebe meu abraço!
Cecília, devido à maior facilidade de divulgação, o plágio infelizmente está se tornando mais comum. É um absurdo, e eu lhe presto toda a solidariedade, compartilhado de sua indignação: afinal a criatividade é a que não pode ser roubada, porque é única, pessoal, intransferível. Concordo com seus amigos que sugerem ações legais. E também acho que vc. deve divulgar o nome da plagiadora aqui, para todo mundo conhecer.
Plagia-se na net, também, e descaradamente. Um site útil, que ajuda a localizar plágios na blogosfera é: http://www.quemmeama.co.cc/
Meu Deus.
CeciLia, querida, o pretenso ponto-fixo, como ideal de estabilidade, tem muitos, muitos nomes...
Ah, vens a Belém? Que bom! Se tua visita não for a famosa "visita de médico", poderemos nos encontrar e nos conhecermos pessoalmente. Um tour a lugares legais (afinal, amazônicos!) também poderiam ocorrer. E se te apetecer hospedar-se em nossa casa, a receberemos com grande prazer,ok?
Abraço!
Como isso aconteceu minha linda amiga?? como podem roubar um poema assim tão Cecília, tão felinamente Ceci?? Mas adorei seu texto, mesmo um "desabafo" é tão rico, tão visceral;), tão seu!!
saudades de vc querida!
bjos e miaus^^~
sabe, cecília, a morte inescapável se dá aos olhos dos outros, inevitavelmente. mas há outros tipos de mortes, pequenas mortes cotidianas, que se dão solitariamente. nos mais das vezes, causadas pelos outros com suas atitudes desonestas, covardes, desumanas, indecentes e por aí afora... morremos, sim, destas pequenas mortes cotidianas, mas certamente não haveremos de morrer calados nem coniventes. seu desabafo ecoa em mim, minha cara, e também faleço um pouco, já que nada mais me dói (ou me apraz, também) do que gente. tens meu apoio e minha solidariedade. 1 bj
Cheguei atrasada. Mesmo assim não dá pra ficar em silêncio. Meu coro. Meu aplauso duplo e vigoroso pelo poema e pela indignação. Minha oferta: do que for preciso. Minha admiração. Minha indignação. Meu abraço.
Guilhermina
Cecília.
No momento em que algo assim acontece, toda a literatura, todo o campo das letras deve se sentir atingido. E penso que tem de ser motivo de incômodo coletivo, por todos que têm respeito às palavras. Que não cales, que não pares, e que se precisares de mais vozes, assobies.
A indignação costuma ecoar como seta ao alvo quando vozes dão as mãos.
Solidária.
Katyuscia.
Faço minhas (sem plagiar!) as palavras da colega Katyuscia. É revoltante. Por outro lado, é um sentimento tão doce ver, como eu vi, uma menina me pedindo autorização para usar um meu poeminha no catálogo de uma exposição. É claro que eu autorizei, ainda mais que era uma causa nobre, oriunda da "Toca de Assis", uma das poucas instituições que eu AINDA respeito. Um abraço e vamos tomar cuidado com essas parasitas!
já conhecia teu belo poema, não sei e daqui, ou se do meu costume de procurar poesia pelas janelas dos ônibus, mas conhecia... e já gostava, como parece também gostou a dita escritora ctrl+C crtl+v...
sim, a lei existe pra isso.
os amigos existem pra te dar apoio
e essa mulher que te fez isso
só o fez porque certamente nunca terá capacidade pra criar um poema vigoroso e verdadeiro como o teu.
certamente só consegue tricotar algumas rimas mal acabadas, fáceis e pobres como o hábito de furtar...
bom, não vou bancar o advogado de defesa da pseudopoeta ladra, mas pelo menos ela tem bom gosto, isso tem :)
eu sou bem desencanado com isso, a diferença Cecília é que vc pode fazer milhares de poemas, um melhor do que o outro, e ela?
enfim, faça um poema sobre o assunto e mande pra ela :)
abraços
Cesse Lia, Cassa
essa possessividade
saca essa ressaca
seca a passividade
ativa, altiva, a viva
accessibilidade
à tua habilidade
cotidiana,genuína
expressão do sentimento
da verdade
Onde está você? Volta a escrever aqui para a gente...
Beijo!
Cecília:
eu entendo e respeito a tua indignação. E, sim, isso é crime. E acho que um post como esse, um dos campeões entre os posts mais recentes em comentários, mostra que estás certa, que a maciça maioria acha o fim da picada. Porém concordo com o Rubens da Cunha, que escreveu que escreveu: "a diferença, Cecília, é que vc pode fazer milhares de poemas, um melhor do que o outro, e ela?" Pobre plagiadora, seja quem for. E talvez o nome nunca venha à tona. A razão? Porque não tem importância nenhuma! Já o teu, vive nas nossas bocas, na nossa memória, na nossa mente, uma vez que queremos te ler mais. Porque sabemos que não plagias e, por isso, pela energia miraculosa de criar, estás sempre trazendo algo novo.
Mas, claro, tua indignação é sagrada, justa. Num país injusto e à toa.
Beijos, legítima.
Cecília, vim te ver e me deparei com o teu poema tão lindo e tão teu na assinatura de outro.
Ficamos todos indignados:
eu e meus escritos ,
os que nem foram ditos
e os que sequer estão no céu
Ficamos todos aborrecidos
a beira de um escarcéu
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