quarta-feira, junho 24, 2009

Das permissões não concebidas



Eu preciso inaugurar em ti um espaço ainda intocado, ela sussurrava. É preciso que descerre, desnude, desvende, ilumine qualquer canto teu como um raio de sol que, entrando por uma fresta insuspeita, desvelasse uma escultura há muito encoberta pela poeira. Dizendo isso, ela enxergaria as partículas refringindo na luz e acreditaria no caminho que a luz faz e que torna possível a existência das coisas obscuras. Eu preciso ensinar-te uma nova língua que em breve será código, inventar uma carícia que te arrebate à sombra, entoar uma música que vibre teus cristais e altere o rito. Ela dizia essas coisas todas e procurava nele uma confirmação que remotamente a fizesse entender uma permissão.

Do fundo de um ceticismo recém conquistado, ele, solene, duvidava.
(Texto e Imagem: CeciLia Cassal)

6 comentários:

Anônimo disse...

Minha querida!
Quando eu estiver só suplico que voltes...
Mesmo que eu diga: que nada, está tudo bem. Simplesmente não acredite. Mais um texto admirável!
Um dia quero escrever assim.
Um beijo carinhoso.

guilhermina, (ataulfo) e convidados disse...

Há textos para os quais um comentário, qualquer um, é uma invasão, um ruído, um desrespeito. Este texto é assim. Merece do leitor o silêncio, a reverência e a apreciação do eco.
Beijo
Guilhermina

Paulo Bentancur disse...

CeciLia, poeta, evento de pessoa:

ninguém, diante de um texto assim, permanece cético. Acredita imadiatamente. Não em tudo. Mas em ti!

Beijos e parabéns. Ah, claro, e obrigado pela vida que, através de palavras orgânicas, tu nos dá.

Paulo Bentancur disse...

CaciLia:

impossível não sermos tragados por um texto desses. Tu escreves como quem, com as mãos, tocas fundoo corpo mais íntimo do nosso corpo - o nosso espírito -, e é apaixonante e perturbador, e vice-versa, te ler nos denunciando nas nossas precariedades plenas e nas nossas plenitudes precárias. Tu nos denuncias, nos pegas em flagrante no que em nós fascina. Hoje, aqui, os teus textos: fascinantes. Nâo, não há ceticismo que se sustente diante deles.

Dizer parabéns é pouco. Te aplaudir em pé é preguiça.

Claudio Eugenio Luz disse...

Solenemente, despertando em ti.

hábraços

Mara faturi disse...

CECI,

Cada vez que a leio me surpreendo, me esvaio em suspiros e respingo encantamentos. Minha admiração é pura reverência;)
bjo minha querida!