quarta-feira, abril 29, 2009

Os Amantes

Escondiam suas senhas nas mangas das palavras para sacá-las, poderosos ases, no silêncio da noite grande ou na claridade parca da madrugada. Encontravam, no avesso dos bolsos internos, os mantras com que se deliciaram um dia. Costurados. A linha resistente da distância fazendo-os mais fortes, aprisionados voluntariamente e para sempre aos forros do tempo que cumpririam ainda. Caminhavam através da chuva e molhavam lábios, faces, cílios. Deixavam-se encharcar mais. Ah, a chuva. Não pensavam em reminiscência, essa coisa única que resta aos velhos sem saída. Antes mantinham viva, apesar da vida, a lembrança. Como se fora hoje. Como será amanhã, o que ontem, apenas ontem, foi.

(Texto: CeciLia Cassal - Imagem: O beijo, Gustav Klimt)


12 comentários:

Mara faturi disse...

Hum...belo texto apaixonado e apaixonante;))
ADOREI REVER VOCÊ LINDINHA!!!!
Bjos*)

Theo G. Alves disse...

belo texto, ainda mais belo ao lado do klimt.

beijo!

Theo G. Alves disse...

belo texto, ainda mais belo ao lado do klimt.

beijo!

Cosmunicando disse...

"apesar da vida"... lindo!

Paulo Bentancur disse...

Cecilia,

teus textos têm, cada vez mais, uma força assombrosa. É lê-los e nos sentimos (eu, pelo menos) de tal forma atordoados, como se fôssemos flagrados no instante que até mesmo fugiu de nossa consciência. Uma vez capturado por tua literatura refinada e aguda, suave e cristalizada, porosa e no alvo, o instante único nos volta vivo e nos acorda para uma lucidez que é tão grande que nos faz descobrirmos tudo o que fizemos sem nunca saber o suficiente. Tu sabes. Mais que o suficiente. Tua escrita caminha em nossa direção, nos ultrapassa, e temos de segui-la, correndo atrás, atrás do que somos, isto é, do que fomos e do que seremos sem nunca ter muito claro isso. Teu texto ilumina-nos a intensidade protegida, ainda na penumbra. São inclassificáveis textos assim. E a gente fica admirado, boquiaberto, e grato também. Te ler, particularmente, me faz sentir um ser redesenhado. Quantos, imagino, sentir-se-ão assim... É a força do que escreves, a força de um abraço, a provar que as palavras podem o que não supúnhamos.

Parabéns e obrigado.

douglas D. disse...

"Como será amanhã, o que ontem, apenas ontem, foi."
(muito bom!)

Rubens da Cunha disse...

bom de dizer esse poema, dizer aos sussurros, pois ele revela silenciosamente nossa condiçào,

guilhermina, (ataulfo) e convidados disse...

entre a reminiscência e a lembrança... toda essa distância que só vc poderia nominar... assim, tão profundo quanto o abismo, mesmo que ali, ilusoriamente, vizinhos.
Que bonito! Que espanto!
Bj
Guilhermina

- disse...

bonito escrito. e, particularmente, adoro o Gustav Klimt.

Dalva M. Ferreira disse...

Epa! esse é um daqueles, verdadeira chibatada.

Késia Maximiano disse...

Intenso... Muito intenso...

Beijo grande

Mara faturi disse...

Obrigada pela visitinha virtual lindinha,
espero agora aquele tão difícil, tão esperado e truncado encontro, rs,rs,
bjão ( adorei sua referância ao Theozinho, ehehe)