O dia entrega-se-me em grãos opulentos de alvura e o sol me cumprimenta livre. Não há no mundo um tão numinoso momento. Para cheirar o mar. Olhar o mar. Voltar ao mar. Provar do vento morno que a noite não tratou de arrefecer em bondades delgadas sobre a pele de há muito intocada. O dia envolve-se de minhas alvuras e a areia me sentencia: livre. É vasta de arrepios a água quando explode nas pedras e é música de marola, quando volta e volta e volta. E volta para embalar o barco, para tocar os joelhos, para benzer dos dedos as pontas, aos dentros mais escondidos de sozinhez e escuridão passadas. E volta para ondular os cabelos e deitar luminosidades de prisma através das pestanas molhadas. Porque o dia assim vivido é grão, granada, gratitude, grandeza de horizonte, oração de tributo à plenitude. E é desassombro, descanso, esperança sem precisão de nada esperar. É prontidão ao destino que vier e é paz sem medida. Porque o sol me reconhece livre.
(texto e imagem: Cecilia Cassal - Mucuripe - Fortaleza - CE)
6 comentários:
Bárbaro o ritmo que você imprimiu aqui. De uma boniteza impossível de esconder. beijos daqui
QUERI,
Que belas imagens ( mar, grãos,poema)...ADOREI!!
tautogramas? nome grandão,mas só quer dizer:poema que inicia e continua até o fim com a mesma inicial...
bjão menininha linda!!
estar-se em prontidão para o destino que vier é, das liberdades possíveis, uma das mais desejáveis. 1 beijo
Belo como sempre soube. Te desejo muita paz!
Re
legal, fostes bem longe, mas a linguagem e a precisão continuam as mesmas :)
abraços
Rubens
Grande poder de descrição. A descrição, essa ferramenta meio banal da arte das palavras, encontra em ti uma força para a renovação. E então passa a ser mais que descrição. Passa a presença, personagem, ação em silêncio.
Beijos.
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