terça-feira, fevereiro 19, 2008

porque ele não vem


A noite não lambe das ruas
A ruína do dia
Nem irrompem das trevas
seus próprios fantasmas rotos
de tédio e devaneio.

Porque ele não vem.

Por hora o medo
Apressa as coisas indevidas
E reabre túmulos deixados entreabertos
E murmura ruídos de puro horror
E exibe carcaças de barcos deixadas
À deriva.

E ele, que não vem.

E se viesse ele
E rasgasse os véus em destemor
E destravasse os ferros dos grilhões
E corrompesse as lógicas insanas
Roídas de rotina sem sofreguidões?

Mas ele não vem.

E porque ele não vem
O dia enfrenta seus mesmos velhos ocasos
E as naus são túmulos que
Já nem uivam degredos.
Tampouco jamais navegam.

Tudo é fantasma, medo e silêncio.

Porque ele não vem.
(texto e imagem: Cecilia Cassal - Canal de Beagle - faro Les Eclereurs)

12 comentários:

MARTHA THORMAN VON MADERS disse...

Que blog bonito e inteligente. Faz nossa alma deslizar. Parabéns. meu blog é marthacorreaonline.blogspot.com

mulher de sardas disse...

oi, Cecília

continuo te visitando e amando tuas poesias.

meu site mudou de endereço, se ainda não visitou, apareça:

mulherdesardas.blogspot.com

um beijo!

marcia cardeal disse...

"O silêncio é a corda
que nos prende aos mastros,
a antena vegetal por onde
a vida se insinua,
universal e atenta."
(albano martins)

teus versos me remetem à melancolia dele.
beijo

douglas D. disse...

fantasma
medo
silêncio
quando chegam, aportando naquilo que resta de nós
somos margem
e farol.

Rubens da Cunha disse...

por isso te coloquei no Casa entre os meus iguais na tragédia, foi por poemas como esse...

olha, quanto ao Aço e Nada, apesar de ansioso pelas tuas 1000 palavras, não precisa apressar-te :)
beijo

Anônimo disse...

nossa que perfeiçao
um dia escrevo assim hehehe
o dia continua, com seus ocasos
e por ele nao vir
tudo permanece praticamente como esta
adorei a poesia

Anônimo disse...

Mas o dia que ele vier, sera por inteiro.
Bjs

Mara faturi disse...

O que importa mesmo é que o poema sempre "te vem", e como vem bem;)
passando sempre por aqui, adoro tudo sempre,

*fiz poema "iluminada pelo eclipse", postei lá no blog, espia!
bjo!

Anônimo disse...

dois grandes momentos: tua poesia, e a terra do fogo, que é fascinante. bela construção poética, escrita densa, Cecilia. - ano passado retornei à terra do fogo e patagônia, que habitam minha alma. o farol, que vi pela primeira vez em 96, é algo, pois logo depois é mar e mar até a Antartida. Obrigado, por tudo e por me trazer mais uma vez uma região que não esqueço nunca. beijo.

meriam disse...

O farol é uma imagem inesquecível em nossas vidas e tuas palavras têm vida própria aqui. Ótima semana. Abraço, Meriam

CarolBorne disse...

Que sintonia é essa de alma que nos torna tão sentimentalmente semelhantes?

Tamancada na gengiva e com salto agulha!

Anônimo disse...

O nome diz-me Catalunia, onde se fala o Ladino (Catalão) dos Sefarades. Não escreves, sentes e transmites, bem.
Ja postei uma msg, ha tempos. Nem lembro o que dizia mas ficou-me na memoria, o fato.
Quem sabe a gente não se cruzou no NAVAL do Mercado.....Quem sabe.Por enquanto ficaremos por aqui, de vez em quando. Lêr é ja um prazer...
O Mundo é tão pequeno. Como a maioria de suas almas....
Ha exceçoes. E bruxas. Yo no creo en ellas, pero que las hay las hay...