Olhando nos olhos: - Vai. Um pouco, tento suavizar.
- Mas vai doer quanto, como se arrancassem minha mão?
Pensei por um instante nos trilhares de cristais de gelo pontiagudos do nitrogênio, espetando os pequenos dedos. - Como se tivessem cem formiguinhas...
Os olhos azuis e límpidos me olharam em silêncio. Decidi prosseguir: - Maaassss ! Se colocarmos este remédio mágico ! Maaassss ! Se a mãe te levar para tomar um suco ! Maaasss ! Se a gente contar meia hora no relógio, quando voltarem aqui serão só cinqüenta.
- Cinqüenta?
- É, das menos ferozes. Coloquei o anestésico e observei a graça da menina em sua jardineira de cintura franzida afastando-se com a mãe.
Meia hora e uns minutos depois, o procedimento concluído, os olhos vermelhos, as faces afogueadas, o nariz fungando as lágrimas que ela tentava orgulhosamente esconder:
- Doutora - levantei os olhos do papel onde escrevia as orientações - quando a gente faz o que precisa, né que as formigas criam asas e voam, que nem borboletas?
(para a Srta. R, que nos seus sete anos me lembrou, hoje, que é branca a minha melhor roupa)
foto: Ana Maria Rosso
12 comentários:
lindo, de chorar e de sorrir. quando eu ficar doente, quero ser tratado por você - ou por um(a) médico(a) como você. parabéns, doutora.
a relação q tenho com medicos é de muito respeito!! acho lindo a dedicação!!! de verdade... e o seu texto de uma beleza impar...nesse dia o q nos resta é pedir pro papai do ceu que de condições p/ q esses profissionais possam clinicar com dignmidade nesse pais...
beijao e ate mais...
Que levinho!
Ah, as crianças!!!
lindo, muito lindo, adorei.
postei você lá! vá ver!
beijo
Linda homenagem, Cecília. Um beijo.
e quem escreve assim e sente assim, a roupa melhor que veste é a da alma que tem olhos para perceber.
A Val me trouxe e usei teus versos para comentar lá.
Carinhos
e você ainda abre essa leveza com margaridas!!!beijos
eu estava hoje, em sala de aula, discutindo phillipe meyer, mais precisamente qdo este defende que a medicina precisa, visceralmente, visar não apenas o seu desenvolvimento mas, primordialmente, a felicidade do ser humano, e eis que venho aqui e descubro seres médica e teres a sensibilidade que tanto falta àqueles que entendem a medicina qual um balcão altamente qualificado e o paciente, tão somente um objeto a ser enquadrado à luz do CID...
confesso que a felicidade invadiu-me!!
bjos.
Bonjour ma très chère Cecilia,
Lendo esse lindo relato me orgulho de ser também tua paciente. Além de amar o
teu "ofício", tens por teus pacientes uma imensa ternura sem deixar de exercer
como se deve essa dura profissão que é do médico.
Un gros bisou
Jacqueline
Ah, essas crianças! Nesses dias, a Lia, três anos, que tem um tartaruga de pelúcia chamada Poc, me disse quando a surpreendi conversando com Poc: "Papai, o Poc tá vivo!"
Abraço, querida, e parabéns, ainda que atrasado!
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