A porta se abriu e eu não estava. Logo agora, que tinha chovido novamente sobre as páginas largas dos coqueiros e na areia esculpiram-se incontáveis furos, tais como furnas nos formigueiros, tais como tocas, nos pés dos muros. Logo agora, quando ainda não era a hora que gostarias, mas chegavas e percebias a geografia sublime, logo agora eu já não estava. Todos preparam as suas mortes e o tempo de esperar preparara as suas. No mar vazio além da varanda e na praia oca faltaria o colorido de um vestido distante mas que, em sua memória, voltaria sempre à casa. Como tantas vezes. Logo agora, você pensa, que eu verdadeiramente já queria, agora que já poderia. Então, esbravejaria o engano e a crueldade de seus desejos insatisfeitos: logo agora!, e o batente da porta receberia a raiva de sua mão espalmada e nesse momento talvez minha face esquerda ainda corasse uma derradeira ardência. Logo agora, moço. Logo agora!
(Texto e imagem: CeciLia Cassal)
6 comentários:
Ah, essa vida tão cheia de desencontros! Mas também de bons encontros! Eu que o diga!
Sobre o livro, obrigado!
Deixa eu te dizer que ainda não o vi, não o toquei. Aguardo para esta semana a chegada. Aguarda para, na sequência, também o que te chegará.
Forte abraço!
E pensarque a sorte bate uma só vez à nossa porta... será?
Atenta Cecilia:
teu texto espraia-se por toda a extensão da verdade: a das expectativas e, súbito das possibilidades já então impraticáveis. Quanto tantos escrevem sobre a indiferença ou o mútuo fogo ardente, tu vens por fora, nada desse 8 ou 80, e nos mostras que o tempo e as circunstâncias dançam e nos deixam paralisados. Grande texto, para variar.
Álvaro de Castro Lima, de Brasília.
Gosto desta palavra que não explicita o conhecido, apenas ronda, roça de leve. Saudades de você! besos
Beleza de texto!
Beijos,
CC
Venho aqui bater em tua porta e dizer que a minha, amiga querida está sempre aberta;)
Saudade imensa!
Bjo grande!
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